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23 Feb
23Feb

Baseando-se em conhecimentos sobre o funcionamento cerebral, a neurociência aplicada à arquitetura tende a se consolidar em projetos de diferentes tipologias

Situadas no encontro entre física, química, biologia e psicologia, as neurociências oferecem possibilidades para compreender emoções, pensamentos e ações humanas. Seus princípios têm impactado diferentes segmentos, inclusive a arquitetura. Alvo de estudos em todo o mundo, a neuroarquitetura utiliza, principalmente, conhecimentos da neurociência comportamental e cognitiva para gerar espaços que promovam bem-estar físico e mental, gerem identificação e invoquem emoções positivas nos usuários.

Na hora de projetar, isso se reflete no desenvolvimento de soluções que partam de uma abordagem multissensorial Priscilla Bencke

SERES SENSORIAIS

Não há “receita pronta” para aplicar a neurociência na arquitetura. Contudo, há algumas linhas mestras para nortear a concepção de ambientes que atendam às necessidades biológicas humanas. 

A primeira delas é o entendimento que as pessoas são seres sensoriais e utilizam todos os seus sentidos para compreender os espaços físicos. “Na hora de projetar, isso se reflete no desenvolvimento de soluções que partam de uma abordagem multissensorial”, explica a arquiteta Priscilla Bencke, da Neuroarq Academy. Ela destaca ser fundamental que arquitetos e designers não se limitem a tratar o aspecto visual em seus projetos. Isso porque, a todo momento, um sentido exerce influência sobre o outro. Bencke reforça seu argumento, citando uma pesquisa realizada pela Universidade de Mainz, na Alemanha. que demonstrou como a cor dos ambientes interfere no paladar. “No teste, as pessoas descreveram sabores diferentes ao degustar o mesmo vinho somente em função das cores dos ambientes”, revela a arquiteta. 

CONTATO COM A NATUREZA

A neuroarquitetura resgata muitos princípios que sempre estiveram associados à boa arquitetura. Entre elas, o emprego correto da iluminação, considerando o ciclo circadiano em que o corpo humano se sente mais confortável diante da luz natural.

Outro conceito muito valorizado é a biofilia, que trata da necessidade humana inata de se relacionar com a natureza. “Estratégia para reconectar os projetos com as nossas memórias ancestrais, o design biofílico vai muito além de inserir plantas nos espaços. Ele explora desde a complexidade de formas orgânicas, até a oferta de uma visão ampla do espaço, que desperta tranquilidade aos usuários”, explica a arquiteta Gabi Sartori, também da Neuroarq Academy.

Segundo Sartori, os elementos da natureza estão muito associados à redução de estresse e de ansiedade, e ao aumento da motivação e do engajamento das pessoas. “Pesquisas internacionais já comprovaram que quando trazemos o natural para os espaços físicos há um aumento da sensação de bem-estar, ganho de produtividade e mais criatividade”, continua ela. 

O ruído é um problema recorrente, principalmente em ambientes de trabalho Fernando Neves

RUÍDOS SOB CONTROLE

A qualidade acústica é outro aspecto muito trabalhado pelos projetos alinhados com a neuroarquitetura. “O ruído é um problema recorrente, principalmente em ambientes de trabalho. 93% dos colaboradores ficam incomodados com o barulho em ambientes de escritórios; 80% desses usuários acreditam que seu ambiente não está preparado para prover qualidade e estimular a produtividade”, comenta o arquiteto Fernando Neves, coordenador de desenvolvimento de mercado acústico da Saint-Gobain

Ele também cita dados do Opinion Matters. “Em compensação, uma boa acústica pode reduzir os níveis de adrenalina em 30%, melhorar a motivação em 66% e incrementar o desempenho das tarefas que demandam concentração máxima”, complementa Neves.

Por isso mesmo, projetos com foco na promoção da saúde e do bem-estar não podem prescindir de soluções acústicas. “Durante muito tempo, a prioridade dos projetos, especialmente em ambientes corporativos, foi maximizar o aproveitamento do espaço. Agora, as tendências refletem o entendimento de que as pessoas precisam estar em locais que ofereçam conforto mental e físico para serem produtivas”, afirma Gabi Satori.

Alguns interiores ilustram bem a preocupação em criar ambientes restauradores, que promovam satisfação e acolhimento. É o caso do escritório Studio Sol, em Belo Horizonte (MG). Para criar uma atmosfera lúdica, o projeto de Guto Requena tira proveito do forro formado por caixas de madeira que incorporaram painéis acústicos (Nexacustic) e iluminação automatizada. 

Outro exemplo é o projeto realizado pela arquiteta Moema Wertheimer para os escritórios da Tishman Speyer Brasil com princípios de design biofílico e nuvens acústicas (Ecophon).Priscilla Bencke, Gabi Sartori e Fernando Neves participaram de um webinar promovido pela Saint-Gobain sobre neuroarquitetura. 

Clique aqui e confira o vídeo na íntegra.

COLABORAÇÃO TÉCNICA

 
Priscilla Bencke — Arquiteta e urbanista, certificada em Neuroscience and Architecture, Design and Urbanism. Está à frente do Bencke Arquitetura e do Qualidade Corporativa: Smart Workplaces. Também é cofundadora da Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura (Neuroarq Academy).
 
Gabi Sartori — Arquiteta e urbanista, graduada também em comunicação social. É certificada em Neuroscience and Architecture, Design and Urbanism e cofundadora da Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura (Neuroarq Academy).
 
Fernando Neves — Arquiteto e urbanista, especialista em conforto ambiental. É coordenador de desenvolvimento de mercado acústico na Saint-Gobain.


Fonte> AECweb

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